Poço Encantado, Chapada Diamantina (Itaetê), BA

Poço Encantado, Chapada Diamantina (Itaetê), BA

Na região central do Estado da Bahia, borda leste da Chapada Diamantina, ocorre um extenso planalto carbonático, drenado pela bacia do Rio do Una, no qual se insere o Poço Encantado, uma caverna de aspecto único e rara beleza, que atrai uma média de 7.000 visitantes por ano. A caverna do Poço Encantado é uma feição cárstica desenvolvida em dolomitos do Grupo Una, com grande relevância científica, uma vez que se trata de um local de observação direta do nível d’água, através de um grande e profundo lago, ilustrando um dos padrões morfológicos típicos de cavernas da região (salões de abatimento em fundos de depressões que levam ao nível d’água), servindo de abrigo para espécies endêmicas da região da Chapada Diamantina, o que torna esta caverna extremamente importante para preservação (Karmann, 2000) .

Nos meses de abril a setembro um feixe de luz solar penetra através do pórtico de entrada, compondo um cenário que representa um dos mais conhecidos cartões postais da Chapada Diamantina. A caverna está situada no fundo de uma dolina. No seu interior encontra-se um salão, com um lago de águas cristalinas e tons azulados. A morfologia dominante na caverna é de abatimento com um padrão em rede parcialmente preservado. Mas atenção, se você está pensando em um belo mergulho nas águas encantadas do poço, saiba que não é permitido. Até 1990 ainda era possível se banhar nas águas do Poço Encantado, mas para a preservação do local os mergulhos foram proibidos.

 

Figura 1: Feixe de luz incidindo sobre as águas do Poço Encantado.

Geologia 

O Poço Encantado desenvolve-se em rochas carbonáticas neoproterozóicas da Formação Salitre, unidade superior do Grupo Una (Bonfim & Pedreira, 1990). De acordo com Inda & Barbosa (1978), o Grupo Una engloba seqüências cronocorrelatas ao Grupo Bambuí.

Figura 2: Coluna estratigráfica da Formação Salitre proposta por Bomfim et. al (1985)

Observações de campo segundo Pereira (1998) confirmam parcialmente para a região do rio Una, a leste do Poço Encantado, a estratigrafia de Misi (1979) e Souza et al. (1993) definida para a Formação Salitre na bacia de Iraquara, definindo uma unidade basal, constituída por calcilutitos e calcissiltitos avermelhados, finamente laminados correspondentes a unidade Nova América. No topo do pacote carbonático, dominam calcarenitos cinzentos finamente laminados (alternância de lâminas carbonáticas e lâminas com grande concentração de quartzo e feldspatos subordinados) atribuídos a Unidade Irecê. Em posição intermediária ocorrem calcarenitos cinzentos com intercalações de chert, passando para uma porção superior maciça com estilólitos, localmente exibindo brechas intraformacionais, com intraclastos centimétricos. Pereira (1998) registra ainda porções de calcarenitos esbranquiçados laminados, as vezes oolíticos e com estratificações cruzadas de pequeno porte, similares às descrições de Souza et. al., (1993), referentes à Unidade Jussara, de posição intermediária. Pela razão CaO/MgO estes carbonatos são classificados como dolomitos a calcários dolomíticos.

Formação da caverna

As cavernas se formam através da dissolução das rochas, pelas águas das chuvas que se infiltram no subsolo. Estas águas se misturam com gases da atmosfera e restos de vegetais presentes no solo, tornando-se ligeiramente ácidas. No seu percurso descendente, em direção ao lençol freático, estas águas percolam as estruturas presentes nas rochas e começam a abrir pequenos vazios. Com o avanço do tempo, estes vazios transformam-se em cavidades subterrâneas, às quais damos o nome de cavernas, que vão sendo alargadas por desmoronamentos da rocha.

Os desmoronamentos ocorrem ao longo dos planos de fraqueza existentes na rocha, como os planos de acamamento e fraturas. Estes planos, por sua vez, estão associados à história de formação da rocha, podendo ser associados aos planos de deposição das camadas ou planos de fratura.

Figura 3: Mapa planimétrico e seções transversais da caverna Poço Encantado.

A caverna do Poço Encantado apresenta desenvolvimento de 506m em planta, com duas direções principais, uma orientada genericamente a NS e outra próxima a EW, preferencial. Seu desnível é de aproximadamente 100m até o nível d’ água. Medidas obtidas através de mergulhos, indicam uma lâmina d’água com até 65m de profundidade. A morfologia de abatimento é predominante na caverna. Apesar disto, dois domínios morfológicos podem ser identificados: rede de condutos secos superiores (no setor oeste da caverna) e salão do lago, que ocupa quase toda metade leste da caverna (Karmann, 2000).

Os estudos existentes até o momento sugerem que a Caverna do Poço Encantado, começou a se formar a cerca de 50 Milhões de anos atrás. Entretanto, estas datas ainda carecem de estudos confirmatórios.

Vegetação

Na região grande parte da vegetação natural  é caracterizada como Floresta Estacional Decídua Submontana (RadamBrasil, 1981), apresentando árvores de grande porte e madeira de lei, entretanto a mesma foi devastada e substituída por pastagens e agricultura. Atualmente restam na área somente agrupamentos residuais esparsos, remanescentes da formação vegetal primária. Nos arredores do Poço Encantado a vegetação original encontra-se totalmente descaracterizada.

Fauna do Lago

Os únicos vertebrados aquáticos viventes do lago são representados por uma população de bagres cegos. Tal espécie, ainda não descrita, pertence à Família Pimelodidae, Subfamília Heptapterinae. Estes peixes estão concentrados próximos às margens do lago, desde a superfície até 10 m de profundidade. Folhas, troncos, galhos, insetos (especialmente coleópteros) e alguns pequenos vertebrados que caem acidentalmente na água através da grande abertura existente no salão, são normalmente observados no lago.

Quanto aos vertebrados que podem utilizar a caverna como abrigo foram registradas espécies de morcegos, em relação à fauna de artrópodes terrestres foram encontrados artrópodes como  heterópteros, dípteros, himenópteros, lepidópteros, crustáceos, isópodes e aracnídeos.

 

E vocês já conheciam ou visitaram esse lugar? Conte nos comentários sua experiência e deixem sugestões de sítios geológicos e paleontológicos do Brasil que querem ver por aqui!!

 

Referências Bibliográficas

Bonfim, L.F.C.; Roch, A.J.D.; Pedreira, A.J.; Morais, J.C., P; Guimaraes, J.T.; Tesch, N.A. 1985. Projeto Bacia de Irecê. Salvador, CPRM. (Relatório Final).

Inda, H.A.V. & Barbosa, J.F. -1978- Texto Explicativo para o Mapa Geológico do Estado da Bahia, escala 1:1.000.000. SME/CPRM, Salvador

Karmann, I; Pereira, R. G. F. de A.; Mendes, L. F. Poço Encantado, Chapada Diamantina (Itaetê), BA: caverna com lago subterrâneo de rara beleza e importância cientifica. In: Sitios geológicos e paleontológicos do Brasil[S.l: s.n.], 2002.

Misi, A. -1979- O grupo Bambui no Estado da Bahia. In: Inda, H.V.A.(Ed.) Geologia e recursos minerais do Estado da Bahia:textos básicos. Salvador: SME, V.1, p.-119-154

Pereira, R.G.F. de A. –1998- Caracterização Geomorfológica e Geoespelelógica do Carste da Bacia do Rio Una, Borda Leste da Chapada Diamantina (Município de Itaetê, Estado da Bahia). Dissertação de Mestrado. Instituto de Geociências USP.

Radambrasil, Projeto.1981. Folha SD 24 (Salvador). Ministério das Minas e Energia. Secretaria Geral -. Rio de Janeiro

Souza, S.L.; Brito, P.C.R. e Silva, R.W.S. 1993. Estratigrafia, sedimentologia e recursos minerais da Formação Salitre na Bacia de Irecê, Bahia. Integração e síntese por Augusto José Pedreira. CBPM, Salvador. Vol.2.

 

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