Movimentos de massa: tombamento de blocos, rastejos…

Movimentos de massa: tombamento de blocos, rastejos…

Os movimentos de terra e solo que todos os anos provocam desastres nas cidades brasileiras fazem parte de um tipo de fenômenos naturais denominados movimentos de massa.

Os movimentos de massa ganharam destaque em janeiro de 2022 devido a tragédia ocorrida em Capitólio- MG, em que um bloco de rocha se solta do maciço rochoso e atinge turistas na represa de furnas.

O que são movimentos de massa?

São movimentos gravitacionais responsáveis pela mobilização de solo, sedimentos, vegetação ou rocha pela encosta abaixo, geralmente potencializados pela ação da água. Ocorrem basicamente quando as forças de tração, dadas pela gravidade atuando na declividade do terreno, superam as forças de resistências, principalmente as forças de atrito.

A principal força de tração que causa movimentos de massas é a força de cisalhamento, quando esta supera o atrito, ocorre o movimento (Montgomery, 1992).

Os fatores condicionantes para que ocorram os movimentos de massa são classificados em:

  • Naturais: geologia, morfologia, água, vegetação;
  • Antrópicos: execução de cortes e aterros inadequados; concentração de águas pluviais não disciplinadas; lançamento de águas servidas; vazamento na rede de água e/ou esgoto; presença de fossas; lançamento de lixo/entulho nas encostas e taludes; remoção de cobertura vegetal.

Os principais movimentos de massa existentes no Brasil são:

Rastejos, escorregamentos, movimento de blocos e corridas. Esses tipos de movimentos são definidos a seguir de acordo com Infanti Jr & Fornasari Filho (1998).

Rastejos (Creep):

movimento lento, descendente e contínuo da massa de solo de um talude, corresponde a uma deformação plástica, sem geometria e superfície de ruptura definidas. Os rastejos afetam horizontes superficiais de solo e de transição solo/rocha, como também em rochas alteradas e fraturadas.

Figura 1: Esquema para a ocorrência de rastejo (modificada de Bloom, 1988 apud Infanti Jr. & Fornasari Filho, 1998; organizada por Fábio Reis).
Escorregamentos (Slides):

consistem no movimento rápido de massas de solo e/ou rocha, geralmente com volume bem definido, em que o centro de gravidade do material se desloca para baixo e para fora do talude, seja ele natural, de corte ou aterro. Esse processo está associado a ruptura de cisalhamento, devido ao aumento das forças de tensões ou a queda de resistência, em períodos relativamente curtos, diferentes tipos de escorregamentos são identificados em função de sua geometria e da natureza do material que instabilizam, sendo eles:

Escorregamentos Planares (Translacionais):

são processos muito frequentes nas encostas serranas brasileiras, envolvendo solos superficiais, com ruptura podendo ocorrer no contato com a rocha subjacente. O movimento é condicionado por estruturas geológicas planares desfavoráveis a estabilidade, tais como: xistosidade, fraturamento, foliação, etc.

Figura 2: Esquema para ocorrência de escorregamentos planares ou translacionais (modificada de Infanti Jr. & Fornasari Filho, 1998; organizada por Fábio Reis).
Escorregamentos Circulares (Rotacionais):

possuem superfícies de deslizamento curvas, sendo comum a ocorrência de uma série de rupturas combinadas e sucessivas. Geralmente ocorre em aterros, pacotes de solo ou depósitos mais espessos, rochas sedimentares ou cristalinas intensamente fraturadas.

Figura 3: Esquema para ocorrência de escorregamentos circulares (modificada de Infanti Jr. & Fornasari Filho, 1998; organizada por Fábio Reis)
Escorregamentos em cunha:

estão associados a saprolitos e maciços rochosos, nos quais a existência de duas estruturas planares, desfavoráveis à estabilidade, condiciona o deslocamento de um prisma ao logo do eixo de intersecção destes planos. São comuns em taludes de corte ou encostas que sofreram algum tipo de desconfinamento, natural ou antrópico.

Figura 4: Esquema para ocorrência de escorregamento em cunha (modificada de Infanti Jr. & Fornasari Filho, 1998; organizada por Fábio Reis).
Movimento de blocos:

são movimentos rápidos de blocos e/ou lascas de rocha que caem pela ação da gravidade, sem a presença de uma superfície de deslizamento, na forma de queda livre, sendo divididos em 4 tipos:

Queda de Blocos: envolve materiais rochosos de volume e litologia diversos, que se destacam de taludes ou encostas íngremes e se deslocam em movimentos tipo queda livre.

Figura 5: Esquema para ocorrência de queda de blocos (modificada de Infanti Jr. & Fornasari Filho, 1998; organizada por Fábio Reis)

Tombamento de Blocos: movimento que se da pela rotação de blocos rochosos, condicionado por estruturas geológicas no maciço rochoso, com grande mergulho. Como foi o caso da tragédia em Capitólio-MG, que ocorreu em janeiro de 2022.

Figura 6: Esquema para ocorrência de tombamentos de blocos (modificada de Infanti Jr. & Fornasari Filho, 1998; organizada por Fábio Reis)

Rolamento de Blocos: movimento de blocos rochosos ao longo de superfícies inclinadas, que ocorre geralmente pela perda de apoio.

Figura 7: Esquema para ocorrência de rolamentos de blocos (modificada de Infanti Jr. & Fornasari Filho, 1998; organizada por Fábio Reis).

Desplacamento: consiste no desprendimento de lascas ou placas de rocha que se formam a partir de estruturas (xistosidade, acamamento) que ocorre devido às variações térmicas ou por alívio de pressão, o movimento pode se dar em queda livre ou por deslizamento ao longo de superfícies inclinadas.

Figura 8: Esquema de ocorrência de desplacamento de blocos (modificado de Montgomery, 1992; organizada por Fábio Reis).
Corridas (Flow):

movimentos gravitacionais na forma de escoamento rápido, envolvendo grandes volumes de materiais. Caracterizam-se por uma dinâmica híbrida, regida pela mecânica dos sólidos e dos fluidos, pelo grande volume de material envolvido e pelo extenso raio de alcance que possuem (até alguns quilômetros), apresentando alto potencial destrutivo. Considerando as características do material mobilizado, as corridas podem ser classificadas em 3 tipos básicos:

Corrida de Lama (mud flow): fluxo de solo com alto teor de água, apresentando média velocidade relativa e com alto poder destrutivo.

Corrida de Terra (earth flow): fluxo de solo com baixa quantidade de água, apresentando baixa velocidade relativa.

Corrida de Detritos (debris flow): material predominantemente grosseiro, constituído por blocos de rocha de vários tamanhos, apresentando um maior poder destrutivo.

No Brasil, as ocorrências de movimentos de massa, principalmente os deslizamentos e as quedas de barreiras, estão entre os eventos que mais causam danos humanos. Embora esses fenômenos sejam naturais, a interferência humana pode acelerá-los ou agravá-los.

Um dos fatores que aceleram esses processos é a ocupação irregular de áreas de encosta, causada pela urbanização aliada à falta de planejamento adequado. Com a magnitude e a maior frequência em que os desastres estão ocorrendo, faz-se necessário que a população e o Estado estejam preparados para enfrentar essas situações. Por isso, é essencial que se realize uma eficiente análise de risco, que poderá subsidiar as decisões adequadas para gerenciar de forma efetiva os riscos encontrados (Cardoso, 2016).

Algumas ações que devem ser empreendidas para prevenção e mitigação de movimentações de massa:

Detalhamento geológico da área, pesquisar indícios de eventuais movimentações (árvores inclinadas, etc.), elaborar mapas de vulnerabilidade e de riscos, controlar a drenagem (evitando aumento da infiltração e da escorrência superficial), reformular a ocupação do território (sempre que possível), construir muros retentores (gabiões, pilares de suporte, betão, etc.) caso seja possível, monitoramento contínuo, entre outras.

Referências bibliográficas

CARDOSO, Gustavo; CARDOSO, Christiano. Gestão de riscos associados a movimentos de massa. Revista Ordem Pública, 2016, 9.1: 261-270.

INFANTI JUNIOR, N. & FORNASARI FILHO, N. Processos de Dinâmica Superficial. In: OLIVEIRA, A.M.S. & BRITO, S.N.A. (Eds.). Geologia de Engenharia. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE), 1998. cap. 9, p.131-152.

MONTGOMERY, C.W. Environmental geology. 3ª ed. Dubuque: Wm. C. Brown Publishers, 1992. 465p.

KOBIYAMA, Masato. et al. Prevenção de Desastres Naturais: conceitos básicos. Curitiba: Organic Trading, 2006

Fábio Augusto Gomes Vieira Reis. Geodinâmica Externa. Movimentos de massa. Disponível em: http://www.rc.unesp.br/igce/aplicada/ead/interacao/inter09.html

http://www.ebc.com.br/noticias/meio-ambiente/2012/07/rio-de-janeiro-recebera-r-19-bilhao-para-prevenir-desastres-naturais

http://www.bvambientebf.uerj.br/arquivos/movimentos_de_massa.htm

Prevenção e Mitigação de Movimentações de Massa. Disponível em: http://w3.ualg.pt/~jdias/GEOLAMB/GA4_MovMassa/GA49_Prevencao/PrevMitig.html

10 comments

Excelente aporte, preciso y mejor como recurso didactico. Verdaderamente util para refrescar refrescar conocomientos …Muito obrigado pela publicacion…

Boa noite. Sou estudante de Geografia da UERJ e seu trabalho fez a diferença na praticidade do assunto; e certo do resultado de aprendizado, e com muito entusiasmo, após a leitura, fez-me procurar mais sobre este ramo.
Muito obrigado pelo teu esforço em agir sobre este estudo.

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