Risco geológico: o que é e como saber o risco de uma área

Risco geológico: o que é e como saber o risco de uma área

Áreas de Risco Geológico são aquelas sujeitas a sofrerem perdas ou danos causados por eventos adversos de natureza geológica.

 A geologia, a geomorfologia, a hidrogeologia e a geotecnia se estabelecem como estudos imprescindíveis para realizar a interpretação do terreno quanto ao risco geológico existente em um local, e consequentemente a prevenção de desastres naturais, perda de vidas e bens materiais.

Se você deseja saber mais sobre esse assunto, continue conosco e leia este artigo sobre o tema.

O conceito de desastres naturais

Desastres naturais podem ser definidos como a consequência de um processo natural, que atua independentemente da ação humana, e que traz à sociedade tamanho prejuízo que implica na incapacidade da população e órgãos de lidar com tal evento.

O risco geológico é calculado a partir dos desastres naturais, que podem colocar a vida humana em perigo, assim como provocar a perda de bens materiais, portanto, é preciso discorrer sobre este tema para entender a sua importância dentro do âmbito da segurança pública.

É de amplo conhecimento que o aumento da ocorrência destes episódios está intrinsecamente ligada à urbanização e ao crescimento desordenado das cidades. Esta afirmação envolve questões sociais e políticas, visto que a população está sujeita a ocupar locais sem planejamento do uso do solo, o que resulta em menos estrutura e segurança.

Área de deslizamento de terra em Nova Friburgo – RJ. Fonte: Adobe Stock

Podemos dar o exemplo de residências que são construídas perto de taludes naturais, e para sua implantação, o talude sofre intervenção humana através de um corte para abrigar as construções.

Tal mudança influencia na estabilidade da formação e assim, havendo processos geodinâmicos, o possível resultado desta intervenção será movimentos de transporte de massa.

De acordo com a Classificação e Codificação Brasileira de Desastres, COBRADE, podemos realizar a distribuição de desastres naturais do seguinte modo:

  • geológico;
  • hidrológico;
  • meteorológico; 
  • climatológico;
  • biológico.

Esta categorização é importante pois dá a oportunidade de identificar agentes específicos em cada caso e assim entender suas origens. Neste artigo, serão abordados apenas os eventos de origem geológica.

Entendendo o risco geológico

Uma boa definição de risco geológico é : “situação de perigo, perda ou dano, ao Homem e suas propriedades, em razão da possibilidade de ocorrência de processos geológicos induzidos ou não” (Cerri, 1993).

O risco está associado com o perigo iminente e a susceptibilidade do local ao mesmo. Também é fato que a magnitude de um evento e sua frequência são aspectos que aumentam o risco.

Deve-se ter em mente que o conceito de risco geológico é dependente da presença de pessoas, pois estes eventos naturais só se tornam um perigo quando envolve-se o fator vida humana, caso contrário, são apenas acontecimentos da dinâmica externa do planeta Terra.

Os riscos geológicos representam um grande problema principalmente em países em desenvolvimento, onde não há meios suficientes para elucidar e resolver a questão da ameaça a tempo suficiente de evitar que tais desastres naturais acabem resultando em números alarmantes.

No Brasil, as inundações e os movimentos de massa são os desastres naturais mais expressivos no quesito de dano à população. No decorrer do ano de 2022 ocorreram episódios que resultaram em mortes e perdas de patrimônios em diferentes partes do Brasil.

  • Petropólis (RJ)

No dia 15 de fevereiro, foram registrados 259,8 mm no índice pluviométrico, um volume identificado como o maior na história do município até então. As chuvas ocasionaram alagamentos em vários pontos do centro da cidade, deslizamentos de terra e morte de 233 pessoas.

Deslizamento de terra em Petrópolis. Fonte: AP Photo/Silvia Izquierdo
  • Capitólio (MG)

Em 08 de Janeiro o desabamento de um bloco rochoso em uma das atrações turísticas mais conhecidas do Brasil alertou a população sobre a questão do risco geológico. O desastre provocou a morte de 10 pessoas e 32 feridos.

HANDOUT / Minas Gerais Fire Department/AFP

Quando se trata de risco geológico, existem inúmeras condições que podem controlá-lo ou minimizá-lo, como ações estruturais (controles artificiais de processos naturais) e não estruturais (acesso à informação, sistema de alerta e resposta frente ao acontecimento).

O cálculo do risco geológico

Uma vez que entendemos o que são desastres naturais, é possível dimensionar como tais acontecimentos podem influenciar negativamente uma população.

Por conseguinte, surge a noção de risco geológico. Quantificar as informações é a ferramenta essencial para se obter uma compreensão completa das circunstâncias. Não basta apenas reconhecer a ameaça, mas é preciso entender o quanto ela pode afetar aqueles que estão sujeitos a ela.

Portanto, uma fórmula foi estabelecida para o cálculo do risco geológico, a qual é: R = P . C

Onde,

  • R= Risco geológico
  • P= Possibilidade de ocorrência
  • C= Consequências

Para efeitos de padronização, é de consenso classificar riscos geológicos como baixo, médio, alto ou muito alto.

Graus de risco. Fonte: CPRM

É importante notar que a esquematização da fórmula resulta em interpretações diferentes. Por exemplo, em uma situação em que a possibilidade de ocorrência é alta mas a consequência é baixa, o  risco geológico tende a aumentar.

Em um cenário com consequências graves e possibilidade de ocorrência alta,  o risco geológico é excessivamente alto. Em casos onde os dois fatores, P e C, são baixos, o valor do risco geológico também será.

A saber, alguns autores aplicam à fórmula a variável de vulnerabilidade (V), que diz respeito à perda dos moradores do local que está suscetível ao risco geológico. 

A vulnerabilidade é potencializada por alguns fatores como densidade populacional, qualidade das construções e percepção do risco. Por exemplo, edificações não resistentes aos desastres naturais consequentemente serão atingidas com mais impacto.

Este último fator é interessante, pois a consciência de uma população do perigo, ou a ausência dela, tem ligação direta com o modo como as pessoas presentes no local irão reagir a uma situação de risco geológico.

A vulnerabilidade não é algo pré-estabelecido, mas sim variável para cada caso, sendo assim de importante estudo e entendimento para que as medidas tomadas sejam coerentes com a demanda da situação. Portanto, aspectos sociais, físicos e econômicos devem ser levados em consideração para estabelecer a vulnerabilidade.

Ações para certificar o risco geológico

Para que o cálculo do risco geológico represente a realidade do local é preciso conciliar os conhecimentos teóricos com atividades técnicas, como estudos de estabilidade e coleta de amostras.

A conexão entre esses dados irá permitir que a área máxima de atingimento seja definida, no caso da ocorrência de um desastre natural.

Assim, se faz necessário coletar informações sobre acidentes anteriores, pois o compilamento de dados é essencial, visto que eventos passados podem nos fornecer informações sobre acontecimentos futuros, ajudando então a identificar risco geológico.

Aliadas a este posicionamento, ainda há uma atitude que se mostra eficaz no reconhecimento de risco: a identificação de processos geológicos que podem deflagrar perigo.

Por exemplo, existem características facilmente reconhecíveis que indicam a instabilidade de um terreno, as quais são:

  • trincas em terrenos e construções;
  • rastejo;
  • inclinação de árvores;
  • degraus de abatimento;
  • surgência na base do talude.

A importância da integração entre profissionais e setores para a segurança da população

A partir de inúmeros eventos que marcaram a humanidade com mortes e danos econômicos, a ciência, a tecnologia e adoção de metodologias permitiu que órgãos governamentais pudessem ter uma base para quantificar e até mesmo prever a probabilidade de um risco acontecer.

Como exemplo, podemos citar a Política Nacional de Defesa Civil — PNPDEC, Lei nº 12.608 do ano de 2012 que possui diversas diretrizes e objetivos que almejavam criar sistemas de informações e monitoramento de desastres, reduzir a ocorrência de desastres e promover amparo ao público afetado.

O SGB-CPRM criou o Sistema de Cadastro de Deslizamentos e Inundações, que permite a colaboração de qualquer indivíduo com informações sobre acidentes, formando um banco de dados com informações sobre os eventos e assim prevenindo futuros desastres.

Somado a esse projeto, também existem as ações de mapeamento da CPRM para prevenção de desastres com objetivo de realizar gestão territorial.  Os produtos dos estudos realizados pelas equipes do órgão são:

  • setorização de risco;
  • avaliação técnica pós-desastre;
  • diagnóstico da população em áreas de risco geológico;
  • cartas de perigo;
  • cartas geotécnicas;
  • cartas de susceptibilidade.
Fonte: Prefeitura Municipal de Osasco

No Plano Nacional de Gestão de Riscos e Respostas a Desastres Naturais do Governo Federal  (PPA 2012 — 2015), o Serviço Geológico do Brasil — SGB/CPRM foi encarregado de realizar mapeamento com o objetivo de identificar áreas de alto e muito alto risco, oferecendo também cursos de capacitação de técnicos municipais na gestão de riscos geológicos e implantação do Sistema de Cadastro de Deslizamento e Inundações, SCDI.

Neste âmbito, cabe destacar o papel do geólogo como profissional eficaz para interpretar a geomorfologia das áreas de perigo com um olhar geotécnico e por isso capaz de instruir quanto à conjuntura do local que apresenta risco geológico.

Atualmente é possível ter acesso aos produtos resultantes das Cartas de Susceptibilidade a Movimentos Gravitacionais de Massa e Inundações no site da CPRM, em prevenção de desastres.

O risco geológico é um conceito fundamental, principalmente para a sociedade atual que enfrenta mudanças climáticas que resultam em índices pluviométricos alterados, secas e outras consequências.

A união entre os conhecimentos técnicos e o uso de tecnologias da informação permite que o cálculo do risco geológico seja muito mais preciso e assim possa ser efetivo na garantia da segurança de todo um país.

Além disso, é preciso reforçar o conceito de desenvolvimento sustentável para que a sociedade passe por mudanças que gerem um modelo de vida e ocupação do solo mais consciente.


Referências:

KELLER, Edward A. Environmental Geology. Pearson Prentice Hall, 2001.

SILVA, Tatiana Quintão. Análise de risco geológico-geotécnico em áreas sujeitas a movimentos de massa. 2016. 119f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) — Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, 2016.

Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais. A atuação do Serviço Geológico do Brasil — CPRM na gestão de riscos e resposta a desastres naturais. Brasília, 2013.

NASCIMENTO, Roney Gomes. Noções de Avaliação de Risco Geológico. Apresentação de slides. 91 slides.

Imagem de capa: Áreas de risco em Nova Friburgo, RJ. https://www.ambientelegal.com.br/areas-de-risco-sistemas-de-alerta-escondem-crime-de-omissao/. Acesso em 10 de agosto de 2022.

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