A importância da Comunicação Geocientífica

A importância da Comunicação Geocientífica

Desde os primórdios da humanidade a comunicação sempre foi uma grandiosa ferramenta para o desenvolvimento cognitivo e social dos indivíduos. Seja das formas primitivas e rudimentares de nossos ancestrais, como mostrado na Figura 1,  até as que são encontradas atualmente. A habilidade de se comunicar de modo eficaz sempre se mostrou uma qualidade de grande prestígio e por vezes capaz de influenciar muitos acontecimentos do passado.

Figura 1: Arte rupestre mostrando fragmento de rocha marcada com desenho geométrico (Fonte: Bird & Hallam, 2006).

Comunicação científica

A ciência em toda sua extensão que hoje é conhecida e amplamente difundida, só conseguiu atingir a inúmeros públicos pois houveram diferentes meios de propagação ao longo da história. Desde os pergaminhos e livros aos congressos e conteúdos digitais, o método científico (Figura 2) sempre tem como finalidade transmitir o conhecimento adquirido, tanto para a comunidade acadêmica como para o público de modo geral.

Figura 2: Etapas do método científico (Fonte: Adaptado de Ruas, 2021).

Neste sentido, um grande desafio encontrado é fazer com que de fato o conhecimento científico gerado em diversas esferas extrapole os limites das universidades, escolas e centros de pesquisa e atinja a sociedade de um modo significativo e compreensível. Ao conhecer e entender um fenômeno da natureza torna-se possível agregar valor, assim, cabe à comunidade acadêmica transmitir à sociedade para que seja possível que cada indivíduo adquira uma consciência de valor de tudo que o cerca.

Geociências e sua importância para a sociedade

Tratando-se das geociências, o desafio de divulgar e conseguir fazer com que o público leigo enxergue a importância dos conhecimentos também se faz muito necessário. Deve-se levar em conta que de início as ciências da terra são de conhecimento muito restrito e não são abordadas tradicionalmente fora do meio de profissionais da área como as demais ciências de nosso cotidiano. 

Partindo desta ideia, elucidamos aqui a importância da divulgação e transmissão do conhecimento geocientífico para o público.

Valor e conhecimento

Para que algo seja valorizado, é necessário ter o conhecimento do que se trata, não importando em que circunstância se analise, como ilustrado abaixo na Figura 3. Quando se trata de geociências, muito do que se é estudado não é possível de ser visualizado facilmente, ainda mais fenômenos ou eventos associados ao passado geológico longínquo, e por vezes há uma descrença em acreditar em algo pouco palpável.

Figura 3: Charge retratando a época de colonização de povos indígenas onde o conhecimento foi utilizado para obter riquezas dos povos locais  (Fonte: Arionauro Cartuns, 2022).

Colocando esta questão em foco, fica clara a necessidade de amplificar a divulgação científica no âmbito das geociências para que seja despertado a valorização tanto dos produtos corriqueiros oriundos desse ramo das ciências, como petróleo e metais advindos de mineração, como em todos os demais aspectos estudados pelos geocientistas.

Mas quais os valores podem estar associados às geociências?

Brilha (2005) traz-se o conceito de valores associados à geodiversidade dividindo em valor intrínseco, cultural, estético, econômico, funcional, científico e educativo. Veremos a seguir uma breve descrição de cada um deles:

Valor Intrínseco

  • Trata-se de um valor de grande subjetividade, pois está associado a perspectivas filosóficas e religiosas, e traz a reflexão de que a geodiversidade tem valor intrínseco independente da sua maior ou menor valia para a sociedade;

Valor Cultural

  • Este valor se dá quando é reconhecida uma forte interdependência entre o desenvolvimento social, cultural ou associado a religiosidade e o meio físico do local. Este aspecto é chamado também de geomitologia, ao identificar que um aspecto geológico é traduzido por uma população baseando-se em aspectos folclóricos, sendo apresentado um exemplo na Figura 4.
Figura 4: Paredão de rochas areníticas chamado de “Cabeça do Índio”, na Serra do Itaqueri, localizada na cidade turística de Ipeúna, interior de São Paulo  (Fonte: serradoitaqueri.com.br, 2022).
  • Ainda sob a perspectiva do valor cultural agrega-se também aspectos arqueológicos e históricos, tais como a seleção de materiais geológicos específicos para fabricação de ferramentas líticas, o uso e planejamento de locais geomorfologicamente estratégicos em conflitos armados, tal como na “Batalha das Termópilas” os gregos se utilizaram de um feição do terreno como ferramenta de batalha, ilustrada na Figura 5, e até mesmo a associação de aspectos geológicos locais com o desenvolvimento de uma região.
Figura 5: Cena retratando a “Batalha das Termópilas” entre gregos e persas (Fonte: incrivelhistoria.com.br, 2020).

Valor Estético

  • Atribui-se a este valor ao aspecto visual e contemplativo das incontáveis feições paisagísticas associadas às feições geológicas. De fato é inegável o valor que se tem associado às belezas naturais de afloramentos de rochas, vulcões, cavernas, entre outras formações rochosas, todavia como não é de passível quantificação é também um valor subjetivo. Na Figura 6 é ilustrada uma caverna da região do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR) um exemplo de um local com grande valor estético agregado.
Figura 6: Fotografia ilustrando a Caverna Santana no PETAR, localizada em Iporanga, interior de São Paulo  (Fonte: viagemeturismo.abril.com.br, 2022).

Valor Econômico

  • Dentre os demais, o valor econômico é o mais corriqueiro e de fácil compreensão. É de praxe que na atualidade tudo possua um valor econômico embutido, sejam bens materiais ou serviços, para os produtos de origem geológica como rochas, minérios, minerais preciosos (gemas) e fontes energéticas como o petróleo, por exemplo,  estes valores já se encontram muito bem estabelecidos e compreendidos.
  • No entanto, cada vez mais tem se dado importância a um recurso muito importante e que também está associado a geociências, as águas  subterrâneas. Englobando questões como crise climática, escassez hídrica, produção de alimentos, biodiversidade aquática e contaminação de aquíferos é de suma importância a valorização e cuidado com este recurso tão necessário e indispensável à sociedade e ao meio ambiente de modo geral (HIRATA, et al., 2019). No Gráfico 1 abaixo é possível visualizar as principais atividades econômicas que se utilizam das águas subterrâneas no Brasil.
Gráfico 1: Dados de usos das águas subterrâneas distribuídos por atividades (Fonte: Modificado de Hirata et al., 2019).

Valor Funcional

  • Este valor introduz as ideias de que a geodiversidade possui valor agregado de caráter utilitário para a sociedade de modo in situ, ou seja, de modo antagônico ao valor econômico, sendo a geodiversidade o palco onde sustenta-se os sistemas físicos e ecológicos na superfície terrestre. 
  • Principalmente este valor, mas também os demais valores já mencionados estão associados aos chamados Serviços Ecossistêmicos que são definidos como benefícios tangíveis ou intangíveis provenientes do meio natural que apresentam possibilidade ou potencial de ser utilizada para fins humanos (Andrade & Romeiro, 2011);

Valor Científico e Educativo

  • Trata-se de um valor muito claro e indiscutível para a comunidade científica, no entanto já para o público em geral este valor ainda é muito nebuloso. O estudo das geociências, seja ele de modo geral ou aplicado, dá os fundamentos para todos os ramos científicos e aos diferentes ramos profissionais relacionados a esta grandiosa área científica.
  • De modo a expandir as barreiras e alcançar novos horizontes, o valor educativo vem com a ideia de propagar tudo aquilo que é encontrado em pesquisas científicas, seja ele fomentado em universidades, escolas, cursos e capacitações diversas.

Como divulgar as geociências?

Com isso é possível dizer o quanto a comunicação científica é de fato muito importante, a valorização dos objetos, produtos ou fenômenos geológicos só é possível a partir da divulgação e compartilhamento de conteúdo envolvendo estes temas que foram comentados anteriormente.

Para isso, são utilizados os métodos tradicionais de divulgação como congressos científicos, livros, palestras, excursões a museus e cursos, e adicionalmente meios não tradicionais como filmes sobre esta temática, divulgação de conteúdos digitais como publicações em redes sociais, vídeos e podcasts, entre outros.

Gostou desse conteúdo? Comente o que achou e compartilhe para que mais pessoas fiquem sabendo sobre as geociências!


Para saber um pouco mais deste assunto, deixamos alguns conteúdos extras aqui:

Portal da Mineração – IBRAM: https://portaldamineracao.com.br/a-importancia-do-conhecimento-das-geociencias-para-o-desenvolvimento-sustentavel-da-sociedade/

Canal Geologando: https://www.youtube.com/c/Geologando


Canal Nerdologia: https://www.youtube.com/watch?v=8TlyeOoyekE&list=PLyRcl7Q37-DVuiQp8ysAb2hB6csv532fd


Referências Bibliográficas

ANDRADE, D. C., ROMEIRO, A. R., 2011. Capital natural, serviços ecossistêmicos e sistema econômico: rumo a uma Economia dos Ecossistemas. in: Anais do XXXVII Encontro Nacional de Economia [Proceedings of the 37th Brazilian Economics Meeting] 185, ANPEC – Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia [Brazilian Association of Graduate Programs in Economics]. 2011. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/228460289_Capital_natural_servicos_ecossistemicos_e_sistema_economico_rumo_a_uma_Economia_dos_Ecossistemas. Acesso em: 17 jul. 2022.

Arionauro Cartuns. Charge Escambo. 2022. Disponível em: http://www.arionaurocartuns.com.br/2022/05/charge-escambo.html. Acesso em: 17 jul. 2022.

BIRD, C., HALLAM, S. J. A Review of archaeology and rock art in the Dampier Archipelago. Australia: National Trust of Australia (WA). 2006.

BRILHA, J. Patrimônio Geológico e Geoconservação: A Conservação da Natureza na sua vertente Geológica. Braga: Palimage Editores. 2005.

Grupo Abril Viagem e Turismo. Atrações Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar). 2022. Disponível em:https://viagemeturismo.abril.com.br/atracao/parque-estadual-turistico-do-alto-ribeira-petar/. Acesso em: 17 jul. 2022.

HIRATA, R. et al. As águas subterrâneas e sua importância ambiental e socioeconômica para o Brasil. São Paulo: Universidade de São Paulo/ Instituto de Geociências, 2019.

Incrível História. Batalha das Termópilas, 480 a.C.: o rugido de Leônidas. 2020. Disponível em: https://incrivelhistoria.com.br/batalha-termopilas-leonidas/. Acesso em: 17 jul. 2022.

RUAS, C. De onde viemos?. 1. ed. São Paulo: São Paulo, 2021.

Serra do Itaqueri. Ipeúna. 2022. Disponível em: https://serradoitaqueri.com.br/municipios/ipeuna/. Acesso em: 17 jul. 2022.

Imagem de capa. Disponível em:

https://www.visitfiemme.it/en/more-info/fiemme/all-fiemme/The-Geological-Museum-of-the-Dolomites_isd_85251. Acesso em: 17 jul. 2022.

6 comments

Muito bom! Conteúdo muito importante, abordado de forma simples e objetiva. Assunto muito relevante para nos despertar sobre a divulgação do conhecimento e comunicação sobre geociências. Parabéns!!!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *