Extinções em massa: os agentes que dizimam a vida na Terra

Extinções em massa: os agentes que dizimam a vida na Terra

A história da vida no planeta Terra não é linear, mas sim, repleta de diversas ocorrências que resultaram em novos rumos para a evolução dos seres vivos.

Logo, para interpretar esses eventos é necessário reunir uma série de fatores capazes de explicar os contínuos aparecimentos e desaparecimentos de espécies ao longo de milhares de anos.

A importância dos fósseis

As informações contidas em afloramentos de rochas sedimentares revelam muito sobre paleoambientes, paleoclimas e paleoecologia. Através de dados obtidos em estudos paleontológicos é possível identificar mudanças na história da vida de seres que estiveram na Terra há milhares de anos atrás.

Por exemplo, um conceito muito utilizado na paleontologia é o de fósseis-guias. Estes animais foram abundantes por um curto período de tempo, além de estarem presentes em regiões geográficas distintas. Por isso, são facilmente identificados em diferentes estratos, o que permite relacioná-los a um tempo geológico específico (datação relativa).

Figura 1 – Fóssil em afloramento. Fonte: Pixabay

Os fósseis são peças importantes quando buscamos estudar os períodos passados e entender os processos que nos permitiram chegar ao planeta no qual vivemos hoje. O desaparecimento de espécies pode ocorrer de maneira natural, como através de seleção natural ou estabelecimento de novas condições ecológicas.

Extinções podem ser identificadas através do estudo das camadas estratigráficas. A ferramenta criada pela Comissão Estratigráfica Internacional utiliza os dados de rochas sedimentares para realizar a datação e assim, identificar em pacotes rochosos períodos de tempo equivalentes, ou até mesmo, uma transição no tempo geológico. Para saber mais, você pode ler em nosso site o artigo disponível sobre o Tempo Geológico e a Coluna Estratigráfica.

Sendo assim, extinções são comuns ao longo da história. Porém, existem ocorrências que destroem grande parte da vida e criam novos contextos para a evolução dos seres vivos.

Extinções em massa

As extinções em massa podem ser definidas como eventos no tempo geológico que dizimam uma quantidade significativa de espécies em determinado momento. Há um consenso de que extinções em massa representam a perda de no mínimo 75% dos seres vivos.

Apesar de soar catastrófico, estes eventos simbolizam a criação de condições favoráveis para novas espécies. Em um exemplo conhecido, o qual veremos mais à frente,  a extinção do cretáceo dizimou os dinossauros, mas aves, crocodilos e mamíferos sobreviveram a este acontecimento.

Figura 2 – Paleoarte do período Cretáceo com carcharodontossauro (à direita), saurópodes, pterossauros e espinossauros. Fonte: Sergey Krasovskiy

As condições e o modo como a extinção ocorre, assim como a morfologia dos organismos da época, serão fatores decisivos para os indivíduos que irão sobreviver.

Os fatores condicionantes de extinções

Ao pensarmos em eventos de grande magnitude, logicamente os relacionamos a desastres de grandes magnitudes. Entretanto, nem todas as extinções são explicadas por eventos catastróficos.

Quando estudamos sobre a importância do meio ambiente para os seres vivos, percebemos que a vida pode ser ameaçada por diversos fatores. Assim, as extinções são observadas através de uma óptica multifacetada, que engloba condições climáticas, ambientais e biológicas.

Dentre os agentes de extinções em massa podemos citar:

  • Redução dos nutrientes

A vida marinha desempenha um importante papel ecológico. Como sabemos, a atmosfera rica em oxigênio foi gerada por cianobactérias fotossintetizantes.  Até os dias atuais, grande parte do oxigênio vem dos mares.

Os organismos marinhos necessitam de nutrientes para o seu desenvolvimento. Os nutrientes vêm da erosão que transporta os minerais até o fundo dos oceanos, fazendo parte de ciclos biogeoquímicos.

Assim, mudanças na disponibilidade de nutrientes impactam o desenvolvimento das biotas dos oceanos, o que é refletido posteriormente em grande escala.

  • Correntes marítimas

As correntes marítimas ditam o clima das regiões que percorrem, criando ambientes favoráveis para a biota marinha. Desequilíbrios nessas condições afetam organismos.

Gif 1 – Ilustração da circulação oceânica diferenciada pela temperatura e salinidade das águas. Fonte: G1/NOAA
  • Nível de oxigênio nos oceanos

A abundância de oxigênio é influenciada pelo carbono. Quando este elemento está estocado, como pela morte e deposição de organismos vivos, há abundância de oxigênio. Entretanto, se ocorrem regressões marinhas, essa quantidade de carbono é liberada. O mesmo reage com o oxigênio gerando CO2. Esta combinação conhecida afeta a temperatura do planeta.

Também vale salientar que a presença de CO2 em excesso acidifica as águas marinhas.

  • Vulcanismo

Atividades vulcânicas são eventos comuns no planeta, porém, quando liberam grandes quantidades de partículas e elementos para a atmosfera, podem ser fatais. Intenso vulcanismo pode bloquear os raios solares e acidificar os oceanos.

Existem inúmeros registros na história geológica, desde erupções atuais como a do Monte Santa Helena (1980), até derrames basálticos, como do continente africano ou os localizados na bacia do Paraná. Todos os eventos citados modificam o funcionamento usual do planeta Terra e impactam na vida de organismos existentes.

Figura 3 – Basaltos do Decão na Índia. Fonte: Ciência Hoje
  • Eventos de impacto

Impactos de objetos astronômicos também são frequentes na história da Terra. Por exemplo, muitos meteoritos são encontrados permitindo seu estudo e catalogação. Entretanto, é preciso que os corpos celestes tenham dimensões significativas para causarem um impacto global que resulte, ou intensifique, extinções em massa.

Alguns estudos buscam estabelecer periodicidade aos impactos, entretanto, em muitos casos a datação dos registros encontrados não pode ser relacionada com extinções em massa, ou ainda, algumas extinções não podem ser explicadas por esses eventos.

As 5 grandes extinções em massa

1.Ordoviciano-Siluriano

A primeira extinção em massa na história do planeta Terra ocorreu há 440 milhões de anos atrás.  Esta extinção é divida em dois pulsos. O primeiro é explicado por uma glaciação gerada pela movimentação do continente Gondwana. Este translado fez com que as temperaturas caíssem e o nível dos mares reduzissem, afetando invertebrados marinhos.

O segundo pulso de extinção também é explicado por mudanças no clima. Houve um aumento de temperatura após a glaciação, o que impactou novamente os organismos.

Estas mudanças dizimaram cerca de 85% dos organismos. Dentre eles, podemos citar espécies de briozoários e espécimes de braquiópodes. Trilobitas e nautilóides tiveram suas populações reduzidas.

2.Devoniano

Esta é considerada a segunda maior extinção. Diferentes pesquisadores defendem diferentes causas principais para a extinção do Devoniano. Entretanto, uma suposição recorrente seria a mudança no nível dos mares, que teria afetado os ecossistemas marinhos existentes.

Também são levantadas as hipóteses de diminuição do oxigênio (tanto na água quanto na atmosfera) e mudanças de temperatura.

Figura 6 – Fóssil de Acanthostega gunneri, vertebrado tetrápode do devoniano superior (360 milhões de anos.) Fonte: Udo Savalli

3.Permiano – Triássico

Esta extinção é classificada como a maior em magnitude. Os estudos indicam que uma das principais causas foram as condições climáticas causadas pela criação do supercontinente Pangea. Essa configuração resultou em uma desertificação no interior da massa de terra.

Outro ponto crucial desta extinção é a ocorrência de grandes derrames de lavas. Eventos de erupções vulcânicas, como as efusivas, são responsáveis por liberar grandes volumes de cinzas e gases na atmosfera. Além desses eventos, derrames basálticos liberam grandes quantidades de material, também sendo responsáveis por criar um ambiente quase inóspito devido às partículas de poeira, acidificação dos oceanos e aumento de temperatura.

Figura 7 – Animais do Permiano. Fonte: GondwanaStudios

Alguns autores também apontam que mudanças no quadro das águas oceânicas impactaram a vida presente na Terra. Não há um consenso sobre o que pode de fato ter afetado os organismos, porém os autores trabalham com hipóteses de transgressão e regressão marinha, além de deficiência no oxigênio, o que dizimaria populações.

Os trilobitas são os organismos mais famosos que desapareceram após a extinção do Permiano. Estes seres já haviam sofrido redução em sua população após os eventos de extinção do Ordoviciano. Além deles, pode-se citar também braquiópodes e amonóides. Esta extinção dizimou mais de 95% dos seres que viviam neste período.

Figura 8 – Fósseis de trilobitas. Fonte: Pixabay

4.Triássico

O triássico marca a separação da Pangeia, evento que ocorreu há 230 milhões de anos atrás. Esta nova configuração dos continentes gerou mudanças que afetaram a vida presente na Terra. No ambiente marinho, o processo de rifteamento inundou áreas antes terrestres, além de ter gerado um grande volume de lavas, as  quais liberaram elementos nocivos.

Figura 9 – Fóssil de conodonte, vertebrado primitivo. Fonte: Natural History Museum

Esta extinção dizimou recifes, além de ter afetado amonóides e gastrópodes. Os conodontes foram definitivamente extintos.

5.Cretáceo

A mais famosa das extinções é conhecida pelo desaparecimento dos dinossauros. Estes seres dominavam a era mesozóica, tendo uma quantidade diversa de representantes.

Estes animais foram popularizados através da cultura popular, como nas trilogias de Jurassic Park e Jurassic World. Entretanto, muitos dos animais eram diferentes do que vemos na trama. Se você deseja saber mais sobre a vida na pré-história, leia o artigo em nosso site sobre a ciência por trás de Jurassic Park.

Devido a fama desta extinção, é de conhecimento geral que a principal causa tem origem espacial: a colisão de um asteróide de 10 km contra o planeta Terra. Esta hipótese é corroborada pela existência da cratera de Chicxulub localizada na península de Yucatán, México.

Figura 10 – Uma das evidências usadas para comprovar a hipótese do impacto: Uma camada argilosa (faixa branca) rica em irídio, elemento químico abundante em corpos celestes. O afloramento em questão está localizado no Colorado. Fonte: National Science Foundation

A energia do impacto seria equivalente à explosão de 10 bilhões de bombas atômicas semelhantes às que destruíram Hiroshima e Nagasaki.  As ondas da colisão se espalharam em um raio de milhares de quilômetros, dizimando tudo que estava em volta e causando queimadas, além de revolver todo o solo.

Além disso, o impacto ocorreu em um local de mar raso, assim, pesquisadores defendem a ocorrência de tsunamis que geraram um evento cataclísmico.

O impacto gerou mudanças em uma escala global. As cadeias alimentares foram completamente prejudicadas. A poeira do meteoro impediu os raios solares de atravessarem a atmosfera, o que afetou o processo de fotossíntese. Assim, consumidores primários, secundários e terciários foram sendo afetados em um efeito dominó.

Vale ainda ressaltar que este impacto teve outras consequências, como vulcanismo intensificado, derrames basálticos, chuvas ácidas e aumento de temperatura.

Estamos vivendo a sexta grande extinção?

As condições atuais do planeta Terra estão levando a uma perda de biodiversidade significativa, e este cenário de destruição tem um agente principal: o homem. Fatores como uso de solo para agricultura, desmatamento desenfreado, invasão de habitats e uso da água vem afetando a dinâmica do planeta e degradando ecossistemas antes estáveis.

Numerosas espécies já foram declaradas extintas, além daquelas que se encontram classificadas em risco de extinção. É fato que o ser humano influencia na vida dos seres vivos e suas atitudes têm causado mudanças ambientais praticamente irreversíveis.

Assim como ainda não há consenso sobre o antropoceno, a afirmação de que vivemos a sexta grande extinção necessita de comprovação científica. São precisos dados, modelos estatísticos e estudos acadêmicos que explorem o tema a fundo e tragam resultados concretos.


Referências:

CARVALHO, I.S. 2010. Paleontologia. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Interciência, vol. 1, 2, 3.

BIERNATH, A. BBC. As 6 grandes extinções em massa do planeta — e por que estamos passando por uma delas agora. 2022. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-63901851> Acesso em 17 de março de 2023.

BEGUM, T. National History Museum. What is mass extinction and are we facing a sixth one? 2021. Disponível em: <https://www.nhm.ac.uk/discover/what-is-mass-extinction-and-are-we-facing-a-sixth-one.html#:~:text=A%20mass%20extinction%20event%20is,less%20than%202.8%20million%20years> Acesso em 23 de março de 2023.

Imagem da capa -Paleoarte do período Devoniano. Fonte: Masato Hattori

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