Crateras de Impactos brasileiras

Crateras de Impactos brasileiras

Todo corpo celeste que orbita o espaço e possui pequenas dimensões é chamado de meteoroide. Quando este material entra em rota de colisão com a superfície terrestre, passa a ser chamado de meteorito, e ao local de impacto é dado o nome de cratera.

Assim, a depender do tamanho, da velocidade, do ângulo de impacto e do local da queda, podem ser formadas diferentes crateras na superfície. Então, indagamos: Existem registros ou estudos de crateras de meteoritos no Brasil? A resposta é sim! Confira no conteúdo abaixo!

Formação de crateras

Antes de investigarmos essas intrigantes feições é importante, primeiramente,  entender como é o processo de formação de uma cratera de impacto, também chamada de astroblema. Conforme ilustrado na Figura 1, a configuração de uma cratera passa por alguns estágios distintos, que envolvem a geração de ondas de choque, ejeção de material acima da superfície e falhamentos (rupturas) anelares e radiais (FERNANDEZ et al., 2013).

Figura 1 – Ilustração esquemática do processo de formação de uma cratera de impacto. Fonte: Fernandez et al. (2013).

No Brasil, pesquisadores identificaram em diferentes localidades estruturas que são comprovadamente relacionadas a impactos de corpos celestes, além de feições que sugerem também a mesma origem, mas que ainda não não foram evidentemente confirmadas.

Veja a seguir, algumas das maiores crateras identificadas:

Cratera Riachão (Maranhão – MA)

  • Diâmetro da cratera: 4 km
  • Idade aproximada: superior a 200 milhões de anos

Localizada no nordeste do Brasil, a cratera Riachão (Figura 2) trata-se de uma estrutura semi-circular formada sobre as rochas sedimentares da Bacia do Parnaíba. Os primeiros estudos que identificaram esta estrutura, como de Ojeda & Bembom (1966) descreveram o comportamento anômalo das drenagens em superfície que apresentavam um padrão radial e sugeriram uma possível origem vulcânica.

Contudo, com o levantamento de novas evidências, com o auxílio de sensoriamento remoto, Maziviero et al, (2013) mostrou dados que comprovaram a origem por impacto de um corpo celeste.

Figura 2 – Localização, perfil topográfico e relevo da cratera Riachão

Cratera Santa Marta (Gilbués – PI)

  • Diâmetro da cratera: 10 km
  • Idade aproximada: entre 93 a 100 milhões de anos

Situada na região sudoeste do estado do Piauí, também na porção nordeste do Brasil, a cratera Santa Marta (Figura 3), nomeada inicialmente de Gilbués, localidade próxima a estrutura consiste em uma cratera que apresenta feições geomorfológicas circulares anômalas, identificada primeiramente por sensoriamento remoto, e confirmada por estudos superiores através de métodos geofísicos e petrográficos (CRÓSTA et al., 2018).

A estrutura Santa Marta se formou sobre as rochas sedimentares da Bacia do Parnaíba e São Franciscana e dentre as demais estruturas brasileiras, segundo levantamentos, esta cratera é uma das feições mais bem preservadas, considerando sua idade e as formações geológicas que a compõem.

Figura 3 – Localização, perfil topográfico e relevo da cratera Santa Marta

Cratera Cerro do Jarau (Quaraí – RS)

  • Diâmetro da cratera: entre 10,5 a 13 km
  • Idade aproximada: inferior a 134 milhões de anos

Localizada em terras sulistas, a estrutura Cerro do Jarau (Figura 4) compreende uma série de estruturas cristas semi-circulares, que apresentam uma elevação de até 200m a mais do que os terrenos ao redor. No local também são notados padrões de drenagem tipicamente circulares. 


Segundo Crósta et al. (2018) as rochas (Figura 5) soerguidas e afetadas pela colisão pertencem às formações Botucatu e Serra Geral, da Bacia do Paraná. Ainda que apresentem evidências de uma possível colisão ainda se discute na comunidade científica se a origem desta estrutura está ou não relacionada a um impacto de um corpo celeste.

Figura 4 – Localização, perfil topográfico e relevo da cratera Cerro do Jarau

Figura 5 – Brechas de basalto encontradas na possível cratera Cerro do jarau. Fonte: Adaptado de Crósta et al. (2018).

Cratera da Serra da Cangalha (Campos Lindos – TO)

  • Diâmetro da cratera: 12 -13 km
  • Idade aproximada: aproximadamente 250 milhões de anos

A cratera Serra da Cangalha (Figura 6) situa-se no estado do Tocantins, na porção noroeste da região. Esta estrutura apresenta notáveis geomorfológicas circulares, reconhecidas por meio de satélites e trabalhos de campo.

Dada a notabilidade de seu relevo, suspeitou-se que a região pudesse se tratar de uma área de ocorrências de intrusões de rochas ígneas, possivelmente kimberlitos. Contudo, as pesquisas e sondagens realizadas não obtiveram sucesso, pois na verdade, a estrutura não possuía a origem que se suspeitava (CRÓSTA et al., 2018).

Figura 6 – Localização, perfil topográfico e relevo da cratera Serra da Cangalha

Quanto ao aspecto geológico, as rochas (Figura 7) que compõem a cratera pertencem ao grupo de rochas sedimentares da Bacia do Parnaíba, representadas pelas formações Longá, Poti, Piauí e Pedra do Fogo, que incluem folhelhos, siltitos, arenitos, lamitos, carbonatos e chert.

Figura 7 – Feições de impacto em escala local do centro da cratera Serra da Cangalha. Fonte: Crósta et al. (2018).

A partir de modelagem geofísica, Vasconcelos et al., (2012) estimaram que o meteorito que formou a cratera apresentava um diâmetro de 1,4 km e colidiu com uma velocidade de cerca de 12 km/s, gerando 2,74 x 10^20 J de energia.

Para efeito de comparação, em termos humanos, esta velocidade se equipara às velocidades de deslocamento das sondas espaciais Voyager 1 e Apollo 10 e em termos de energia, o impacto da cratera foi aproximadamente 11.000 vezes mais forte que a bomba atômica russa Tsar.

Cratera de Vargeão (Vargeão – SC)

  • Diâmetro da cratera: 12 km
  • Idade aproximada: cerca de 123 milhões de anos

Situada no oeste catarinense, a estrutura dômica Vargeão, encontrada via imageamento aéreo, trata-se de uma feição complexa de impacto de um meteorito, com soerguimento na porção central, cujo nome está associado à localidade mais próxima.

Nesta ocorrência (Figura 8) as rochas afetadas também estão relacionadas a litotipos da Bacia do Paraná, representadas pelas formações Pirambóia, Botucatu e Serra Geral. Paiva Filho et al. (1978) notaram um padrão marcante de fraturas radiais e anelares sobretudo nas rochas basálticas da formação Serra Geral e também nos arenitos da Formação Botucatu.

Figura 8 – Localização, perfil topográfico e relevo da cratera Vargeão

Cratera de Araguainha (Araguainha e Ponte Branca – GO/MT)

  • Diâmetro da cratera: 40 km
  • Idade aproximada: por volta de 253 milhões de anos

A cratera de Araguainha (Figura 9) é a maior cratera de impacto do Brasil, situada entre os estados de Goiás e Mato Grosso, a qual acredita-se que tenha se formado graças ao choque de um asteroide ou cometa de 1,5 km de diâmetro e 20 km/s de velocidade.

De modo análogo a outras feições abordadas, esta estrutura assenta-se sobre as rochas sedimentares da Bacia do Paraná, englobando os grupos Cuiabá, Paraná, Tubarão e Passa Dois. Todas as rochas apresentam feições de deformações marcantes, tais como “shatter cones” e características de deformações planares (PDF) nos grãos de quartzo (Figura 10).

É válido acrescentar que devido ao reconhecimento único da feição em termos científicos, mas também de valor cultural, existem iniciativas e propostas para fazer do local da cratera um geossítio.

Figura 9 – Localização, perfil topográfico e relevo da cratera de Araguainha

Figura 10 – Filitos deformados pela impacto gerador da cratera de Araguainha

Além das crateras que abordamos neste conteúdo, no Brasil existem ainda os casos de Colônia e Piratininga em São Paulo, Vista Alegre no Paraná e São Miguel do Tapuio no Piauí.

Gostou desse conteúdo? Se encontrar alguma estrutura como essas no campo, suspeite, você pode estar em uma cratera! Compartilhe para que mais pessoas conheçam as geociências!


Deixamos também alguns conteúdos extras aqui:

Site DW

https://www.dw.com/pt-br/futurando-550/video-65020919

Site Superinteressante

Por que a Terra não é cheia de crateras, como a Lua? | Super (abril.com.br)

Referências Utilizadas:

CRÓSTA, A. P., et al. Impact cratering: the South American record – Part 1. Chemie der Erde, 2018. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0009281918300709?via%3Dihub. Acesso em: 14 abr. 2023.

FERNANDEZ, O. V. Q., et al. Caracterização Morfométrica da Rede de Drenagem Associada à Cratera de Impacto de Vista Alegre, Município de Coronel Vivida, Sudoeste do Paraná. Revista Brasileira de Geografia Física V. 06, N.02, 157-169, 2013. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/rbgfe/article/viewFile/232845/26840. Acesso em: 14 abr. 2023. 

MAZIVIERO, M.V., et al. Geology and impact features of Riachão structure northern Brazil. Meteorit. Planet. Sci. 48, 2044–2058, 2013. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/maps.12213. Acesso em: 14 abr. 2023.

OJEDA, H.O., BEMBOM, F.C. Mapeamento geológico em semi-detalhe do sudoeste de Riachão. Petrobras Internal Report, Rio de Janeiro, Brasil, 1966. 74p. 

PAIVA FILHO, A. Uma janela estratigráfica no oeste de Santa Catarina: o Domo de Vargeão. In: Congresso Brasileiro de Geologia XXX. Recife, 1978.

VASCONCELOS, M.A.R. Contributions of gamma-ray spectrometry to terrestrial impact crater studies: the example of Serra da Cangalha, northeastern Brazil. Geophys. Res. Lett. 39, pL04306. 2012. Disponível em: https://agupubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1029/2011GL050525. Acesso em: Acesso em: 15 abr. 2023.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *