Atualmente, o paládio é um dos metais mais importantes do mundo, juntamente com o ouro, a prata e a platina. Este pode contribuir na diminuição da emissão de gases nocivos, na indústria eletrônica e na manufatura de jóias.
Apesar das numerosas aplicações, é um elemento raro. Por isso, são poucas as jazidas conhecidas. Além do mais, o paládio encontra-se em cenários geopolíticos não favoráveis.
Neste artigo, serão abordados: a descoberta do elemento, sua exploração mineral, principais produtores e seu uso na indústria. Se você se interessa por mineração de metais preciosos, continue conosco e saiba mais sobre o assunto.
…
Paládio: o que é e quando foi descoberto
O paládio (46Pd106,4) é um elemento químico que se encontra no grupo 10 da tabela periódica, pertencendo aos metais de transição. Ele é um dos metais do grupo da platina (MGP), juntamente com a platina, ródio, rutênio, irídio e ósmio.
Além dos MGP, o paládio ocorre associado ao níquel, sulfetos (como pirita e pirrotita), ouro e minerais de cobre. Para compreender melhor essas relações, consulte nosso artigo sobre a diferença entre minério, metal, minerais e rochas.
A gênese do paládio está ligada à rochas máficas-ultramáficas, onde se encontra em pequenas quantidades, podendo estar na forma de ligas metálicas ou pepitas.
Este elemento químico muitas vezes se encontra em cristais de platina, sendo um modo convencional para sua exploração.
O paládio é um metal dúctil e maleável, o que permite seu fácil manuseio.
Também é resistente à corrosão e não sofre oxidação com o ar. Uma interessante propriedade é sua capacidade de absorver hidrogênio (em até 900 vezes seu próprio volume).
Paládio: primeiras citações científicas
A descoberta do paládio data do século XIX. A identificação do metal foi feita pelo cientista britânico William Hyde Wollaston, que junto com Smithson Tennant realizou experimentos com o intuito de manipular o minério de platina.
Wollaston realizou diversos procedimentos, até obter um pó escuro através da utilização de água régia.
Em 1803 o cientista publicou um artigo anônimo onde falava sobre o paládio, o declarando a nova prata e citando as características do metal, entre as quais se destacam:
- Na presença de ácido nítrico puro gera uma solução vermelha de tom escuro;
- Faces altamente aquecidas tornam-se azuis, voltando ao aspecto brilhante novamente, assim como outros metais nobres quando aquecidos;
- Alto ponto de fusão.
É apenas em 1805 que Wollaston revela ser o autor da publicação. Ele se dedica então a estudar e a divulgar suas descobertas para a obtenção do paládio puro através de reações químicas. Foram através dessas experiências que o químico descobriu também o elemento ródio.
Apesar dessa descoberta oficial, existem também evidências de que minerais de platina foram encontrados anteriormente. O naturalista Antonio de Ulloa registrou ter achado o metal em sua viagem para a Colômbia no século XVIII.
Também são conhecidos registros da presença de paládio no Brasil, nos estados de Minas Gerais e na Bahia. Nestes locais foram encontradas ligas naturais, na qual o paládio apresenta-se geralmente junto ao ouro.
A mineração de paládio
Os minerais de platina, como arsenopaladinita e braggita, possuem paládio em sua composição, o qual pode ser extraído através de processos químicos.
Entretanto, para viabilidade econômica, os metais do grupo da platina requerem grandes toneladas de extração. Logo, na mineração são extraídos como subprodutos de minerais de cobre e níquel.
Os principais produtores de paládio: África do Sul e Rússia
A maior reserva de paládio se encontra na África do Sul. A ocorrência desse metal é resultante da formação do Complexo de Bushveld, uma feição ígnea ultramáfica composta de diversas intrusões.
Esta formação geológica é responsável por criar uma das áreas mineralizadas mais importantes do mundo. Lá encontram-se igualmente minerais de vanádio, cromo, estanho, níquel e ouro.
As principais minas de paládio na África do Sul estão localizadas nas camadas Platreef, Merensky Reef e UG2 Chromite.
Atualmente, encontra-se em construção a mina de Platreef, que pertence à mineradora Ivanplant. O projeto é considerado como uma das maiores minas de MGP no mundo.
Na Rússia, destaca-se Nornickel, empresa de mineração de níquel. Esta obtém o paládio como subproduto. A empresa é famosa pelos seus minérios de alta qualidade.
Em 2022, o país liderou a lista de produtores do metal, sendo o responsável pela produção de 88 toneladas de paládio.
Os MGPs presentes em Nornickel são paládio, platina e ródio. Os corpos de minério estão localizados no complexo intrusivo de Talnakh.
Outras ocorrências mundiais de Paládio
Ao redor do globo as jazidas de paládio são limitadas, tendo concentrações mais significativas nos Estados Unidos e no Canadá.
Por exemplo, nos EUA estão presentes as minas subterrâneas de Stillwater e East Boulder, no estado de Montana. As minerações ocorrem no J-M Reef, formação geológica rica em sulfetos, platina e paládio. É a maior ocorrência de MGP no país.
No Canadá a mineradora Canadian Palladium adquiriu uma área de 992 hectares no estado de Ontário em 2019. O projeto vem passando por diversos estudos para a inferência do depósito e futura construção da mina.
No Brasil, os achados de minerais de platina datam de séculos atrás. Desde então, empresas privadas e o Serviço Geológico Brasileiro vem realizando pesquisas sobre este mineral estratégico.
No Vale do Curaçá, na Bahia, a mineradora Ero Cooper confirmou a interceptação de porcentagens de cobre, níquel e MGPs.
Em 2022 a Bravo Mining Corp, captou através de ações US$ 40,25 milhões para projeto em Carajás. O Projeto Luanga visa a mineração de MGP (paládio + platina + ródio), além de ouro e níquel.
No mesmo ano foi divulgado o Relatório Anual do Comitê Interministerial de Análise de Projetos de Minerais Estratégicos – do Comitê Interministerial de Análise de Projetos de Minerais Estratégicos (CTAPME), que definiu o projeto Luanga como habilitado sem pendência.
O investimento inicial para o projeto é de mais de US$ 15 milhões. O local da mineração irá ocupar mais de 7 mil hectares, e está localizado no município de Curionópolis, no estado do Pará.
No documento também é citada a importância de investimentos para minérios de cobalto, lítio, silício, terras raras, etc.
Usos do paládio
Em 2018, os três maiores consumidores de paládio no mundo foram América do Norte, Europa e China.
Dados apontam que cerca de 75% do metal extraído é usado na indústria de catalisadores, peças usadas em veículos que transformam gases nocivos (como monóxido de carbono e hidrocarbonetos) em vapor d’água e CO2.
Esta transformação é benéfica para o meio ambiente pois é menos poluente. Portanto, o paládio se qualifica como um recurso essencial para o desenvolvimento sustentável e a para a transição energética.
Outros usos do paládio:
- Joalheria;
- Instrumentos odontológicos;
- Indústria petrolífera;
- Indústria química e farmacêutica.
Escândalos na indústria automotiva e conflitos geopolíticos
Como dito anteriormente, o paládio é essencial na produção de catalisadores. Este foi um dos motivos pelo qual o metal atingiu valores astronômicos nos últimos anos.
Em 2015, o sistema dieselgate foi descoberto: montadoras utilizavam softwares para fraudar testes de óxido de nitrogênio que demonstravam a eficiência dos catalisadores.
Conjuntamente, a China aumentou sua demanda de carros para atender o mercado Asiático. Assim, desde 2016, o preço do paládio vem aumentando drasticamente.
A valorização foi tão grande que o paládio até mesmo ultrapassou o valor do ouro em alguns momentos. Em 7 de março de 2022 o metal atingiu o valor de US$ 3.339,00.
Há ainda o conflito político que ameaça a distribuição e venda de paládio. A Rússia, maior produtora do metal, está em guerra contra a Ucrânia. Este cenário torna o processo de compra instável.
O London Platinum and Palladium Market (LPPM) é um centro econômico voltado para a platina e o paládio, responsável por regularizar o preço desses metais preciosos. Em 2022, O LPPM bloqueou o comércio de MGP refinados vindos da Rússia, o que ocasionou um aumento de 11% nos preços. No site você tem acesso aos dados sobre os valores diários, mensais e anuais do paládio.
Destacam-se também a atuação da London Metal Exchange (LME), mercado de metais responsável pela cotação de matérias-primas, e Johnson Matthey Precious Metal Management, o qual apoia e instrui sobre a pesquisa e comércio de MGP.
…
Referências
BRANCO, P.M. Dicionário de Mineralogia e Gemologia. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. 608 p. il.
COSTA, A. C.M. Jazida. Paládio – o metal precioso que mais se valorizou em 2019. 2020. Disponível em: <https://blog.jazida.com/paladio-o-metal-precioso-que-mais-se-valorizou-em-2019/> Acesso em 9 de abril de 2023.
FARIA, L.E; FILGUEIRAS, C.A.L. A CONTRIBUIÇÃO DO BRASIL PARA A DESCOBERTA DE UM NOVO ELEMENTO QUÍMICO – O PALÁDIO. Química Nova, v. 42, n. 5, p. 580–594, maio 2019.
LEPHAN, N. Mining.com. Palladium: The secret weapon in fighting pollution. 2019. Disponível em: <https://www.mining.com/web/palladium-the-secret-weapon-in-fighting-pollution/>. Acesso em 17 de abril de 2023.
Paládio: Para que serve o mineral, mais caro que o ouro. BBB, 2018. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-46480081>. Acesso em 9 de abril de 2023.
Imagem da capa – Amostra de paládio da mina do Congo Soco, localizada no Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais. Fonte: RRUFF
Lívia Oliveira