Transição energética e mineração

Transição energética e mineração

Talvez você não tenha ouvido falar ainda sobre o tema desse texto, mas com certeza daqui a pouquinho isso vai bater na sua porta dado a necessidade cada vez mais gritante de mudanças no setor energético.

Imagem 1 – Exemplos de fontes energéticas. Fonte: Eletro Thermo

A transição energética pode ser entendida como uma série de alterações na matriz energética de um país, no qual, este migra de um modelo majoritariamente fossilífero para um modelo com foco em fontes renováveis. E é cada vez maior o número de empresas do ramo da mineração que estão pesquisando e investindo no assunto, dado sua relação do setor de extração com o setor energético.

MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL

Bem, primeiro temos que começar falando sobre a atual matriz energética mundial. Segundo dados da EPE – Empresa de pesquisa energética, mais de 70% das fontes energéticas utilizadas no mundo são de origem fósseis, ou seja, existe uma grande dependência para esse ramo energético. Como existem vários problemas ambientais relacionados à emissão da queima desses combustíveis, é cada vez mais necessário a redução da utilização dos mesmos. E é aí que entra a transição energética. Mas afinal. Como se dá essa transição? E como a mineração tem relação com ela?

É importante falar que a transição energética requer tempo, ela não é feita de forma rápida, dado a quantidade de processos existentes para essa mudança. Sair de uma sociedade fossilífera para uma sustentável é algo custoso financeiramente e que demanda investimento em tecnologia e requer mão de obra qualificada.

Nesse ponto, podemos enxergar a situação brasileira de duas formas: O Brasil possui atualmente uma elevada porcentagem em fontes renováveis nas matrizes energéticas e elétricas, mas ainda caminha a passos lentos em algumas áreas vinculadas a esse setor, tais como modais de transporte, uso de solo e aproveitamento de resíduos.

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA NO BRASIL

O processo de descarbonização (diminuição da utilização de combustíveis fósseis) é ponto de partida nessa mudança. Diversos estudos são feitos na indústria visando a diminuição do uso de combustíveis fósseis e da emissão de carbono nas etapas da cadeia de produção.

Em 2015, na conferência conhecida como Acordo de Paris, foi compromissado com os participantes a redução dessas emissões e algumas empresas do ramo da mineração já entraram nessa nova fase, seja com a assinatura de contratos com outras empresas para fornecimento de energia renováveis a longo prazo ou investindo para se tornarem autoprodutoras das mesmas. Mas a renovação não para por aí. Além da energia utilizada na extração e produção, temos um outro caminho, o investimento na pesquisa mineral.

PESQUISA MINERAL E A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Existe um aumento na pesquisa mineral quando se fala em transição energética. Carros elétricos, painéis fotovoltaicos, parques eólicos, tudo isso requer uma demanda da mineração.

Imagem 2 – Escavação de minério. Fonte: Poder 360.

Lítio, Cobalto, Cobre, Níquel, Urânio, Quartzo e Terras raras são alguns dos exemplos de minerais utilizados nessa fase de transição energética. O Serviço Geológico do Brasil – SGB se destaca pela pesquisa nessa área e investe em estudos prospectivos e de modelamento de potencial mineral.

Quando se analisa a diversidade geológica brasileira é notável a gama de minerais presente em nosso território, há então a necessidade de se realizar mais pesquisas para extração dos mesmos, resultando numa menor dependência externa, e autonomia suficiente para a realização da transição energética.

MINERAIS PARA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

O destaque atualmente nesse sentido, segundo o SGB, vai para o Urânio, Lítio, Grafita, Cobre, Terras Raras e Cobalto.

Sem dúvida nenhuma, um dos destaques na questão da transição energética é sobre os modais de transporte. O lítio, ganha o apelido de ouro branco não à toa. Esse mineral é a principal matéria-prima para a produção das baterias que alimentam a propulsão elétrica.

Imagem 3 – Mineração de Lítio em Minas Gerais. Fonte: AMG/Divulgação

A Agência Internacional de Energia, ligada à OCDE, estima que haverá uma demanda de lítio superior a 40 vezes a atual nos próximos 20 anos, colocando a classificação do minério na mesma categoria do petróleo como elemento de segurança energética mundial.

Atualmente a região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais tem ganhado destaque na pesquisa do mineral. Contudo a extração ainda requer atenção, dado os problemas ambientais que cercam a retirada do mineral. Em agosto de 2022, foi instituído um decreto para aumentar ainda mais as pesquisas sobre o Lítio no Brasil, o  Decreto nº 11.120/2022 que tem por objetivo a permitir as operações de comércio exterior de minerais e minérios de lítio e de seus derivados, dinamizando ainda mais a produção do elemento no território. 

Os terra-raras também se destacam nessa corrida. Seu uso é grande na construção dos ímãs permanentes nos geradores das turbinas eólicas. Os minerais em destaque para fabricação dos ímãs permanentes são os óxidos ou metais de elementos Terras Raras, Ferro e o Boro.

Ainda não há fabricação destes ímãs em caráter industrial e nem fornecimento de matéria prima para fabricação dos mesmos.

Há, no entanto, uma iniciativa em andamento feita pela Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), o chamado LabFabITR, o primeiro laboratório-fábrica de ímãs e ligas de terras-raras do hemisfério sul.

Imagem 4 – laboratório-fábrica de ligas e ímãs de terras-raras. Fonte: labfabitr.com.br 

O empreendimento produzirá ímãs de neodímio-ferro-boro (NdFeB), utilizados em equipamentos como motores de alta eficiência, aerogeradores, equipamentos de ressonância magnética, dispositivos elevadores, separadores magnéticos, rolamentos magnéticos, sensores, entre outros. O avanço nessa área é extremamente importante, e o Brasil em razão disso, para alcançar êxito, realiza parcerias com empresas privadas e países europeus, como o projeto REGINA , em parceria com a Alemanha.

No Brasil, os terras raras são encontrados em areias monazíticas do litoral e em jazidas próximas a vulcões extintos. Há o destaque para as cidades de Araxá e Poços de Caldas, localizadas em  Minas Gerais, e Catalão, em Goiás.

Níquel e Cobalto também encontram-se relacionados com o armazenamento de energia, e nas pesquisas a estes minerais há destaque para o projeto Bioprolat, em parceria com pesquisadores alemães. 

O FUTURO DA MINERAÇÃO E DA TRANSIÇÃO NO BRASIL

Fica claro que o Brasil tem grande potencial para entrar nessa fase da transição energética que outros países tanto discutem. E pensando nisso, vemos com mais frequência os debates envolvendo Estado, mineração e setores energéticos. E aqui entra o PNM 2050, ou plano nacional de mineração, estabelecido pelo Decreto nº 11.108/2022, que instituiu a Política Mineral Brasileira e definiu os instrumentos de planejamento para a mesma.

Segundo o Ministério de Minas e Energia, o PNM 2050 é tido como o  principal instrumento de planejamento de longo prazo do setor mineral brasileiro, e tem por objetivo orientar políticas que irão contribuir para o desenvolvimento sustentável desse segmento no país, em suas diversas dimensões.

Imagem 5 – Plano Nacional de mineração brasileira. Fonte: MME

Até o presente momento o PNM 2050 contém 5 cadernos:

Dentro do caderno 3, as cadeias produtivas que serão analisadas são: 

  • A. Cadeia do Nióbio  
  • B. Cadeia do Alumínio  
  • C. Cadeia do Cobre  
  • D. Cadeia do Lítio  
  • E. Cadeia de Terras Raras  
  • F. Cadeia do Níquel  
  • G. Cadeia do Cobalto 
  • H. Cadeia da Grafita  
  • I. Cadeia do Vanádio  
  • J. Cadeia do Urânio  
  • K. Cadeia do Manganês 

A ideia é realizar  um estudo sobre as etapas de mineração e beneficiamento, assim como a transformação mineral e sua industrialização. Após isso será feito um mapeamento de cada cadeia, realizando o levantamento dos usos e aplicações, projeções futuras, regulamentos, questões ambientais e também de logísticas. 

CONCLUSÃO 

Como observado, o Brasil avança no debate sobre a transição energética, mas ainda falta muito a se discutir. A mineração entra com papel importante nessa pauta, dado que a transição requer um determinado aporte de itens que são obtidos pela atividade mineradora. Para os geólogos que estão por vir, temos aqui um novo mundo à frente, que vale a pena ser desbravado, dado seu potencial benéfico para a sociedade. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

https://www.iberdrola.com/quem-somos/descarbonizacao-economia-principios-acoes-regulacao#:~:text=O%20que%20%C3%A9%20descarboniza%C3%A7%C3%A3o%3F,clim%C3%A1tica%20atrav%C3%A9s%20da%20transi%C3%A7%C3%A3o%20energ%C3%A9tica.

https://www.brasilmineral.com.br/noticias/mineradoras-cada-vez-mais-atentas-a-transicao-energetica

https://www.epe.gov.br/pt/abcdenergia/matriz-energetica-e-eletrica#:~:text=A%20matriz%20el%C3%A9trica%20brasileira%20%C3%A9,em%20sua%20maior%20parte%2C%20renov%C3%A1vel.

https://www.alemdaenergia.engie.com.br/transicao-energetica-muito-alem-da-energia/?gclid=Cj0KCQiAnNacBhDvARIsABnDa69jInE7nS8sbkmsR-NOSCvmV3hvs547iL8TEd3udgWeK8jwj4RUbMcaAh-IEALw_wcB

https://eventos.fgv.br/sites/eventos.fgv.br/files/arquivos/u595/apresentacao_transicao_energetica_marcelo_ladeira.pdf

https://motor1.uol.com.br/features/605782/lado-sujo-carro-eletrico-litio/

http://labfabitr.com.br/


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